Os livros têm uma história secreta, falo da história por detrás da história, aquela que - apesar de não ficar imortalizada em tinta e papel - permitiu que um livro passasse de sonho a realidade.
Os livros, tal como as pessoas, têm uma biografia e ela também merece ser contada.
Neste novo episódio especial do podcast, mais um dedicado aos leitores do OCG, vou abrir o baú da memória e permitir-me... um pouco de nostalgia.
Vou contar-te tudo sobre a minha história com este livro tão especial:
quando tudo começou
Os avanços e recuos
Inspiração e as pessoas inspiradoras
A paciência
A grande surpresa
E… a magia das redes sociais.
Esta minha aventura de bastidores literários tem os seus riscos… Ouvi-lo ou não, a partir de agora, é uma escolha só tua.
Bem-vindo!
A ideia para este episódio surgiu do episódio ficção vs não ficção aqui do podcast, em que referi que fui buscar inspiração a um hobby dos meus primos e que me deixou a pensar na história que sempre acompanha a escrita de um livro… a história por detrás da história do OCG
Cada escritor tem o seu método de criativo e ritmo - e estes muitas vezes até podem variar de livro para livro -, no entanto, pode dizer-se que de uma forma geral a criação de um livro é um processo demorado… a escrita de um primeiro rascunho é só o início; depois vêm as revisões sem fim, a procura por editora, a espera, as rejeições, o planeamento com a editora, a espera, o trabalho minucioso de revisão, paginação… e tanto mais… no caso do OCG, espalhamos isto tudo por um período de cerca de 3 anos.
Hoje, com mais anos já somados a estes três, esta passagem do tempo que sempre torna mais fácil olhar para trás e perceber muito mais coisas - surgiu-me aqui como uma oportunidade de retrospectiva.
Como já referi em episódios anteriores, eu já tinha outros livros publicados, antes da publicação do OCG, - de um outro género literário, sob um outro nome - mas este foi o primeiro livro que escrevi e foi com ele que… a minha aventura pela escrita começou.
Tal como a grande maioria dos primeiros livros, não era um bom livro e ficou na gaveta, que é como quem diz no computador. Depois vieram outras tentativas, quando nos tempos de faculdade resolvi tentar experimentar outros géneros que iam ao encontro das minhas preferências de leitura nesse periodo, até que... finalmente destas tentativas resultou alguma coisa que mereceu ser publicada.
A Marcador foi a minha primeira editora e - nem imaginava eu - viria também a ser a minha segunda casa num dos períodos mais importantes da minha vida. As pessoas que acolheram os meus livros, receberam-me como parte da equipa… anos passaram-se com aventuras, venturas e desventuras que até hoje continuam aqui, comigo.
Foi também neste período, algures no verão de 2015, que resolvi abrir novamente o ficheiro daquele primeiro livrito - fraquito - mas que tinha o poder de me aquecer o coração de cada vez que me lembrava dele…
A minha intenção: reescrevê-lo na perspectiva de um adulto que falava pela criança que foi há tanto tempo atrás e que apesar de reconhecer a ingenuidade dos seus erros continuava a carregar a culpa pela consequências desastrosas dos seus descuidos infantis e pelo sofrimento que causou.
A história do Formiga pode não ter nada de autobiográfico, mas dediquei à sua voz, toda a introspecção que eu própria vivia por aqueles tempos.
Todos nós passamos por dias assim, de olhar mais no passado do que no futuro… em períodos mais curtos ou mais longos… dependendo do tamanho dos erros que cometemos, dependendo se eles danificaram ligeiramente a nossa vida ou a implodiram sem margem para que consigamos reconhecê-la.
O certo é que ao terminar este manuscrito, pela segunda vez, soube que por fim tinha conseguido contar a história que queria contar: do Formiga e da Herdades dos Vaz.
A memória desse dia continua vivida, porque terminar um livro é inesquecível.
Era dezembro de 2015, eu estava na biblioteca Camões porque tinha escolhido escrever as últimas linhas no mesmo sítio onde o tinha começado a escrever. Depois regressei a casa em espirito de passeio de um final de tarde de inverno, com as luzes natalícias da baixa de Lisboa… com uma sensação de dever cumprido misturado com uma grande saudade.
A escrita deste livro foi solitária, mas a sua produção foi um trabalho de equipa… com pessoas incríveis na Cultura editora.
Se olharem para a ficha técnica, uma daquelas folhas iniciais que ninguém lê… por norma só é de interesse para aqueles que trabalham na área editorial… estão lá algumas dessas pessoas que foram muito importantes na vida deste livro… mas ainda assim, faltam outros nomes essenciais… como os editores, leitores-beta, amigos... a minha família.
Porque não é só este livro, ou outros livros... a Maria Isaac é essencialmente o resultado da existência de todos eles.
Onde Cantam os Grilos foi publicado em outubro de 2017, e chegou às livrarias discretamente, no auge das publicações para a época de natal, a mais importante no mundo editorial, e… manteve-se discreto, na pouca visibilidade que conseguiu nas prateleiras e nas vendas.
Infelizmente, o período de frescura e novidade de um livro é cada vez mais curto, e a janela de oportunidade que ele tem para conseguir brilhar na àrea das novidades de uma livraria é de pouco mais de 2 semanas… antes de ser recolhido para a estante na parede e lá permanecer com 1 ou 2 exemplares disponíveis, no melhor dos cenários, para ser descoberto por leitores mais aventureiros que se embrenham nelas nas esperança de descobrir algum tesouro esquecido.
Era lá que o OCG estava, muito esquecido e apertado, quando em 2019 recebi a notícia de que estava na lista de finalistas do Prémio Fundação Eça de Queiroz.
O meu coração não estava preparado. Foi uma surpresa muito boa. Como o sentiria qualquer pessoa que vê um trabalho reconhecido.
Mas… para além desta, ainda havia mais uma grande surpresa reservada para a vida deste pequeno livro…
Não tenho grandes aptidões no que respeita a redes sociais… sou como que se costuma dizer um utilizador curioso: faço as minhas vistas diárias para me manter a par do que se passa no mundo, pouco mais… e foi nessas visitas que comecei a ver uma quantidade inexplicável de novos posts de leitores… a receber mensagens de amigos que me reencaminhavam fotos lindíssimas do livro e reviews com opiniões que me deixavam de coração derretido.
O que estava a acontecer? Segui a rastro das migalhas de pão… ou seja hastags...
E descobri a magia por detrás destas publicações: Book Gang. Bookstagram e o poder das redes sociais.
O Book Gang é o maior clube de leitura digital do país! Dúvido que neste momento exista algum leitor no Instagram que não o conheça, tal é a dimensão deste fenómeno literário criado pela Helana Magalhães… também ela autora, autodenominada feminista e uma mulher que merece ser reconhecida pelo trabalho que tem feito a desenvolver este projeto que é o Book Gang e que pretende incentivar à leitura pela divulgação de livros que a Helena Magalhães acredita que valem a pena ser lidos.
Continuo a ser pouco apta no que respeita a redes sociais, mas no último ano tenho conhecido pessoas maravilhosas, leitores e leitoras que levam o seu amor pela leitura muito além, e inundam o Instagram com posts maravilhosos, cheios de criatividade, em que os livros são os grandes protagonistas. Era impossível ficar indiferente e por isso ganhei coragem para criar, também eu, um perfil, com intuito de guardar todos estes gestos de carinho.
Se me estás a ouvir e és um destes leitores: muito obrigada! O mundo literário é bem mais grandioso e colorido graças a ti.
E já agora, a minhas desculpas - atrasadas ou antecipadas - por alguma gafe de social media que eu possa ter cometido. Não é intencional, é só mesmo falta de jeito.
Tento acompanhar as publicações e manter-me a par, ler as reviews no Goodreads... mas se por acaso não vi a tua, podes sempre partilhar diretamente comigo se quiseres...
Tem sido muito recompensadora toda esta experiência com o OCG e o sentido que este livro deu ao tempo em que me tem acompanhado.
São todas aquelas coisas boas que as paixões nos dão, tudo o que é feito com o coração e pelas razões certas.
Escrevê-lo foi um agradecimento a todas as pessoas importantes na minha vida, que estão sempre presentes, tolerantes com as minhas falhas, silêncios, longas ausências e que me acolhem de braços abertos quando regresso a casa.
Aos rostos de sempre, juntaram-se outros novos que vieram tornar tudo ainda melhor… foi isto o que escrevi na folha de dedicatória há quatro anos atrás... e continua a ser verdade.
È muito bom poder regressar a sítios felizes sempre que escrevo, por isso desde então continuei a voltar ao cenário do Onde Cantam os Grilos e aventurei-me numa nova história... para além das vedações da Herdade do Lago, até à pequena vila de Mont-o-Ver e a um novo livro...!
Fica atento, porque no próximo episódio do podcast, vais poder ouvir o primeiro capítulo desta nova história : “O Que Dizer das Flores” (é o título) e neste episódio especial vou dar-te as boas vindas a Mont-o-Ver com duas das personagens que quero muito que conheças.
Espero que gostes!
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