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Livro Vs Filme

Writer's picture: Maria ISAACMaria ISAAC

O debate entre livros e filmes vem de longe e, vamos já admitir, todos nós temos o coração dividido.

São paixões e desilusões que nunca mais acabam, sem conseguirmos resistir-lhes.

Se os livros são a nossa paixão e os filmes, em mais vezes do que seria aceitável, as grandes desilusões, ambos são merecedores do nosso amor e tolerância em troca das histórias que nos permitem viver.

No episódio de hoje falo-te sobre os nossos livros transformados em filmes e estas duas artes que nos dividem o coração.

Bem-vindo!


Há alguns anos atrás, durante uma reunião familiar, um primo meu com cerca de onze ou doze anos, chegou-se perto de mim e com um ar muito solene e toda uma postura de quem quer parecer o mais crescido possível: perguntou-me se eu era a prima escritora, eu gostei do interesse dele e disse-lhe que sim, que era. Ao que ele me respondeu: pois, era para te dizer que eu ainda li nenhum dos teus livros, porque estou à espera que façam o filme.

Quem estava por perto desatou a rir e eu, como imaginam, agradeci ao meu querido primo a confiança inabalável no sucesso dos meus livros, que mesmo sem os ler, ele não parecia ter qualquer dúvida sobre um futuro garantido na sétima arte.

Ter um livro adaptado para filme, é, sem dúvida, um marco na vida de qualquer escritor, um corar do sucesso do seu trabalho. No entanto, o resultado final é uma incógnita.

Se eu gostaria de ver o nosso Formiga e a vila de Mont-o-Ver no ecrã? Sim.

Se esse seria um daqueles sonhos tornados realidade que três segundos depois virava pesadelo? Muito provavelmente, sim.

A adaptação de um livro em filme (ou série televisiva) é um trabalho criativo gigante! E há tanta coisa que pode correr mal, e que provavelmente correrá, ou não seria tão célebre aquela frase: o livro é melhor do que o filme!

Os gostos são subjetivos e as opiniões questionáveis, mas não parecem sê-lo quando se trata deste tema.

Porque são os nossos queridos livros considerados melhores do que os filmes?

Bem, podemos começar pelo seu talento na atenção aos detalhes, detalhes da história, dos cenários, das personagens, referir a proeza do seu vocabulário rico que tanto nos encanta, e a “nossa” relação com ele. Leitor e livro é um assunto privado, silencioso, íntimo. Construímos com os livros um universo de liberdade para imaginarmos, à nossa vontade e ritmo.

Há que admitir que esta é uma experiência imersiva difícil de superar.

Mas existem várias razões que explicam, logo à partida, as dificuldades que os filmes enfrentam nesta competição, talvez até desleal, com os livros, e que talvez nos façam compreender mais facilmente tantas das suas tentativas fracassadas.

Como em tudo na vida, o tempo é essencial, e os filmes são obrigados a reger-se pelo relógio, o que os leva a ter de apresentar uma versão corte-e-costura da história original, em que grandes porções são deixadas para trás para cumprir pré-requisitos.

Este desrespeito pelo enredo tende a deixar bastantes de nós furiosos, em especial os mais aficcionados.

Porque é justamente o leitor “mais aficionados” quem dedicou mais de si, do seu tempo e imaginação, a construir o universo com o escritor e o viveu na sua maior plenitude.

Ao ver um filme, esta imaginação de leitor não tem lugar, é-lhe apresentado uma recriação pronta a viver, e, como toda a gente sabe, ninguém imagina uma personagem principal com o mesmo rosto, cada um de nós tem o seu próprio Padre Amaro e a sua Amélia, o seu Carlos da Maia e a sua Maria Eduarda.

É difícil, senão impossível até, traduzir palavras para imagens, por isso se chamam adaptações.

As duas formas de arte têm como nos apaixonar, e os filmes, mesmo que em grande desvantagem quando se aventuram a adaptar o universo dos livros, conseguem em certas ocasiões, surpreender-nos à boa maneira da regra que tem sempre as suas exceções (e nós que bem gostamos delas)

Pois se olharmos para os nossos também queridos filmes eles são ótimos companheiros no que respeita a ajudar-nos a desvendar enredos complicados e narrativas intrincadas de alguns daqueles escritores (que não vou mencionar mas vocês bem sabem de quem falo) aqueles escritores que não nos facilitam em nada a vida e nos obrigam a ler três vezes o mesmo parágrafo até conseguirmos perceber o que diabos nos está a querer dizer.

Os filmes conseguem combinar experiências sensoriais, juntar uma experiência visual e o sentido da audição à história, e isto tem assumido especial importância nos últimos anos, em que temos assistido a um avanço na tecnologia de imagem, som e efeitos especiais que tornaram possível a adaptação de obras de fantasia, que até agora não foi possível recriar.

E… há muitas pessoas como o meu querido priminho, que simplesmente preferem filmes a livros.

Numa procura no Google podes encontrar muitas listas que prometem exceções, filmes imprevisíveis que superaram os livros nos quais foram baseados.

A minha lista é bem curta e se quiseres pôr-me a prova, vê estes filmes:

Expiação, com a Keira Knightley e o James MacCavoy

Clube de Combate, com Brad Pitt e a maravilhosa Helena Bonham Carter

Psicopata Americano, com Christian Bale

Este país não é para velhos, com Ravier Bardem

Silêncio dos Inocente, com Anthony Hopkins e Jodie Foster

O Diário da nossa Paixão, adaptação de um dos muitos bestsellers do Nicolas Sparks e que só os mais duros conseguem terminar de ver sem uma lágrima no canto do olho.

E um filme de animação, para colorir esta lista de recomendações:

O Fantástico Sr. Raposo, a quem George Clooney dá voz numa adaptação inteiramente filmada em stop motion que se tornou num dos meus filmes favoritos deste género.

Não quero com isto, obviamente, dizer-vos que não devem ler estes livros, porque sim, devem lê-los se tiverem a oportunidade, no entanto estas adaptações saíram-se MUITO bem no que diz respeito a tirar uma história do papel e a colocá-la no grande ecrã.

Estas são duas artes que se complementam, os livros são uma matéria-prima riquíssima para o cinema.

Falar sobre a comparação entre livros e filmes é como escolher entre laranjas e tangerinas, são ambos citrinos mas de sabores bem distintos.

Leitores facilmente preferem o livro, os cinéfilos facilmente escolhem o filme. Para compreender as suas escolhas, é fácil, temos apenas de considerar o melhor de ambos.

Somos todos grandes fãs das nossas histórias, contadas da forma como mais adoramos vê-las contadas.

Os filmes são uma experiência possível de partilhar, com amigos, a família, alguém especial.

Na leitura, há intimidade, estamos a sós com um livro e personalizamos a sua história, tornando-a, só nossa.

É uma relação a longo termo, esta nossa química com os livros, nas horas, dias, semanas de refúgio silencioso num mundo interior. Eles são imaginação materializada em papel, que seguramos nas mãos, abrimos e fechamos à nossa vontade, acariciamos, e está sempre à nossa espera.

O melhor de ambos, livros e filmes, é que não precisamos de escolher. Podemos ter cada um deles no momento certo, aproveitar o melhor dos dois e viver a arte como ela deve ser vivida, história a história.

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